Aqui segue a redação de Jefferson Rhuan Gomes Almeida, vencedor na Categoria Ensino Médio (prêmio: 1 laptop)
Parabéns, Jefferson.
- Não fizemos correções e colocamos o texto na íntegra para não alterar a marca autoral.
Natiel Valgueiro, um florestano na II
Guerra Mundial
Candidato vencedor da melhor redação na
categoria Aluno do Ensino Médio
Valorizar o lugar que
nascemos é sempre importante. Falar de minha cidade, Floresta, é fácil,
principalmente porque somos pessoas de garra, ricos de coragem, simplicidade e
acima de tudo fortes por natureza. Como já dizia o grande escritor Euclides da
Cunha, “O sertanejo é antes de tudo um forte”.
Sempre fui fascinado
em ouvir relatos de experiências dos mais velhos, seus depoimentos são fontes
preciosas, a História passa a ser contada por alguém real, alguém que viveu
aqueles acontecimentos, por isso é fundamental preservar essas memórias, esses
testemunhos.
Tenho admiração
especial por um florestano, ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, o
Sr.Natiel Valgueiro Barros, pessoa simples, sincera, brincalhona que não se
negou em nenhum momento a responder meus questionamentos , um personagem
interessante.
“Pelos idos de 1926, com
apenas cinco anos de idade, passei uma infância agitada, na fazenda Juá, onde presenciei um ataque sofrido
pela minha família. Nesse dia, os revoltosos, que eram homens bem armados,
saquearam a casa da família e espalharam terror. Esse grupo era intitulado
Coluna Prestes( chefiados por Carlos Prestes, protestavam contra as ações dos
governantes e o coronelismo). Passamos mal bocados naquele dia”, conta seu
Natiel. Aqueles fatos o marcaram profundamente. Como também sua descoberta dos
livros.
“Meu primeiro contato com
os livros foi através de minha mãe, que já era viúva, e nos alfabetizava
através de cartilhas, encomendadas aos vendedores viajantes que por lá passavam
com mercadorias diversas”, conta ele.
“Recordo-me que vim para a
cidade aos 11 anos. Passei a frequentar o Grupo Escolar Júlio de Melo, e morava
na casa do tio Nestor, irmão de meu pai. Ele foi um homem de muita influência
política, se destacou no cenário da educação, pois utilizava seu salário
pagando professores itinerantes para alfabetizar as crianças pobres da zona
rural. Recebeu a merecida homenagem como patrono da Escola Capitão Nestor
Valgueiro de Carvalho”, recorda.
“Com o passar dos anos, fui
morar em Petrolândia e nesta época aprendi a datilografar com precisão.
Descobri que em Recife tinha sido aberto um curso para escrivão da Coletoria do
Estado e também um concurso para escrivão do Banco do Brasil. Porém, para
exercer a função, teria que servir seis meses a um ano nas Forças Armadas”,
lembra ele.
“Então, parti para Recife. No local que
estava hospedado, um amigo me falou que tinha alistamento. Pensei: “fico seis
meses e depois saio com a carteira de reservista”.
E assim fiz. Ingressei no
Exército, fiz um curso de cabo, e com seis meses já havia assumido o cargo”,
relembra.
“O mundo estava em guerra. E
agora? O Brasil tinha alianças com alguns países e o presidente Getúlio Vargas
só estava esperando o chamado dos Aliados para o Brasil entrar na guerra
também.
O grande dia chegou! Não
esperava a notícia, mas quando me contaram, não fiquei assustado. Sabia que
tinha que cumprir o meu dever como brasileiro.Era um simples florestano, mas
acima de tudo, amava o meu país.
Assim como eu, outros
florestanos também foram convocados, porém em regimentos diferentes”, comenta.
“Saímos do Recife para o
Rio de Janeiro em um navio brasileiro, desconfortável. Em seguida, embarcamos
num navio da Marinha norte- americana, rumo a Nápoles na Itália, percorrendo o
Oceano Atlântico em 24 dias.
Na Itália, fui para o
acampamento, onde o superior mostrou armas americanas totalmente desconhecidas
para mim: rifles, metralhadoras, fuzis, munições de vários tipos. Trabalhava um
dia e folgava dois. Nos dias de folga passeava pela cidade. Foi num desses
passeios que visitei a cidade de Pompéia, soterrada pelo vulcão Vesúvio, no ano
de 69. Comprei o bilhete com a parte do salário que me era destinado, pois as
outras duas partes se dividiam: uma era depositada no Banco do Brasil, esperando
minha volta e a outra era depositada na conta da esposa. Como muitos não eram
casados, ficava com a mãe.
Passei momentos difíceis,
em lugares onde a temperatura atingia abaixo de O°C. Em relação à alimentação,
também não era das melhores, chegava de países diferentes. Vinha do Brasil
feijão, arroz, carne e farinha de mandioca, para as refeições do dia de
descanso. Dos Estados Unidos chegava uma ração enlatada que era servida nos
campos de batalha.
Até esse momento participava do
11° Regimento de Infantaria, mas fui convocado a substituir um sargento morto
na batalha de Montese. Acompanhei combates pequenos. Algum tempo depois fui
incorporado a esse mesmo regimento.
Parecia que o tempo não passava,
foram seis longos meses em solo italiano. Nos últimos momentos de confronto,
fizemos uma emboscada e prendemos milhares de homens da divisão alemã. Como não
havia carro suficiente para o transporte, andamos cerca de cem quilômetros por
dia. O último combate estava previsto para ocorrer a noite,no entanto os
alemães se entregaram e a guerra acabou exatamente quando estávamos em cima dos
Alpes.
Que alegria! A guerra acabou!
Finalmente poderia voltar para o aconchego do meu lar!
Chegando ao Brasil
recebemos muitas homenagens, dentre elas, condecoração, dada por Getúlio
Vargas”, lembra o velho combatente.
Hoje, com quase 91 anos de
idade, o senhor Natiel mora com sua filha, a professora Clara, uma pessoa muito
dedicada ao seu pai, sempre presente em sua vida.
Da guerra, ele guarda
recordações tristes de destruição, desrespeito ao patrimônio e a vida do ser
humano( lembra, com felicidade, não ter matado ninguém) . Mas por outro lado
teve oportunidades de conhecer lugares nunca antes imaginados, e experiências
fortes que transformaram sua visão de mundo.
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